22/09/10

bem a propósito...


Os cães atrás dos ciclistas e a música dos Talking Heads
in http://reporterasolta.blogspot.com

Tive um professor de liceu que tinha dado a volta à Europa de bicicleta. Contou isso nas aulas, e nós ficámos fascinados com o calibre da aventura, principalmente por o seu protagonista ser aquele homem alto e curvado, de voz monocórdica e óculos na ponta do nariz. Ninguém imaginava o cinzento professor de História a pedalar de cidade em cidade, atravessando fronteiras, por estradas inóspitas e intermináveis. Mas era precisamente esse contraste entre aquela figura banal e o seu incrível estilo de vida que prendia a nossa atenção. Ele contava episódios surpreendentes, aquelas coisas inesperadas e descabidas que são, viria eu a perceber mais tarde, próprias das histórias verdadeiras.

Lembro-me bem de uma delas, talvez por o professor a ter mencionado várias vezes com grande ênfase. “Sabem qual é o principal problema de quem anda pelas estradas de bicicleta?”, perguntava ele. E respondia, para nosso espanto: “São os cães”.

De facto, que há de melhor do que um ciclista, numa tarde modorrenta e soalheira, para quebrar o tédio da comunidade canídea de uma aldeia? Os cães adoram ciclistas. Gostam de correr atrás de tudo o que passa na estrada, sejam carros ou motos, mas as bicicletas têm uma vantagem: é possível alcançá-las, e abocanhar os calcanhares do ciclista durante quilómetros.

Era uma imagem terrível e um pouco decepcionante. De facto, quando pensamos em alguém a dar a volta à Europa em bicicleta não imaginamos um professor de História a pedalar com uma matilha de cães a roer-lhe os tornozelos. Mas a bicicleta é isso mesmo. Não flutua sobre a realidade, não possui qualquer espécie de invólucro protector. Está em contacto com as coisas, e nós também. De bicicleta, sentimos o calor e o frio, o vento, a chuva, os sons e os cheiros, e também o fumo, os buracos do caminho e os dentes afiados dos cães. Bicicleta é isso: sentir.

Isso faz dela o veículo perfeito para conhecer uma zona urbana. É rápida, leve e silenciosa, estaciona-se em qualquer lugar e não conhece obstáculos. No selim de uma bicicleta tornamo-nos donos de uma cidade. Quando ela está preparada, com ciclovias, espaços não poluídos e lugares próprios de estacionamento, pedalar torna-se tão natural como caminhar. Quando não está, como é o caso de Lisboa ou Porto, o ciclismo é um desporto radical. Perigoso, mas não menos estimulante: pode-se circular pelas faixas de rodagem ou pelos passeios, zonas pedonais, escadas ou vias de sentido proibido. Já que à bicicleta não é reconhecido o direito de cidadania, pois então vale tudo.

O músico David Byrne é um fanático da bicicleta. Para todo o lado onde viaja leva a sua (que hoje em dia é um modelo dobrável). Escreveu um livro, Bicycle Diaries, onde fala de várias cidades do mundo, vistas da sua bicicleta. Há capítulos sobre Nova Iorque, Berlim, Londres, Buenos Aires, Sydney ou Manila. Mas as cidades mais interessantes, diz o vocalista dos Talking Heads, são as que não têm condições para bicicletas, como Roma (e ele nunca pedalou em Lisboa!)

“Sinto-me mais ligado à vida nas ruas do que se estivesse dentro de um automóvel ou um transporte público”, escreve o músico. “Ocorreu-me que as cidades são manifestações físicas das nossas crenças mais profundas, dos nossos pensamentos muitas vezes inconscientes, não tanto como indivíduos, mas como os animais sociais que somos”. Vista de uma bicicleta, a cidade é uma espécie de retrato vivo e a três dimensões da complexidade da mente humana. “É como navegar pelas fibras neuronais de um enorme cérebro global. É realmente uma viagem no interior da psique colectiva”.

E é também, diz ainda David Byrne, um exercício de auto-contemplação e meditação, e a melhor forma, para um artista, de obter inspiração para criar.

Acabei de ler isto e pensei nas canções dos Talking Heads que poderão ter sido escritas no selim de uma bicicleta. “Run run run away psyco killer” (Foge foge assassino psicopata)? É bem possível, se pensarmos no problema descrito pelo meu professor de História.

21/09/10

Rota da Aldeia do Rugby - Moita

A Rota da Aldeia do Rugby realiza-se dia 26 de Setembro, na Moita - Anadia, e tem um percurso de 40 kms. Mais informações em http://moitarugbyclubedabairrada.blogspot.com/

09/09/10

Festival 2 Rodas - Águeda

A 1ª edição do Festival 2 Rodas realiza-se de 24 a 26 de Setembro, em Águeda, e inclui uma prova de 3 horas de resistência em btt. Mais informações em http://www.mxagueda.com