Já
pelo menos desde o ano de 2010 que tentava, sem sucesso, participar nesta que é
considerada por muitos como uma das melhores provas ciclo turísticas da
atualidade, o QUEBRANTAHUESOS. Este evento que vai já na 22ª edição, realizou-se
em Sabinanigo (Huesca – Espanha), em plena cordilheira dos Pirinéus, entre
Espanha e França, e tinha dois percursos possíveis, o Quebrantahuesos, com 205
kms, e o Treparriscos com cerca de 90 kms.
O
processo de seleção não é fácil, primeiro existe um período de pré-inscrição,
onde pagas 5€, e não tens certeza de que vais ser selecionado, e depois vem o
sorteio, e se tiveres a sorte de seres selecionado vais de certeza viver
momentos inesquecíveis. Eu não fui selecionado na 1ª fase, fui depois numa 2ª
fase repescado, e depois de pagar a inscrição tinha nas mãos o bilhete para uma
grande aventura!
Inscrevi-me
no Treparriscos, talvez um pouco receoso do que a altimetria do Quebrantahuesos
mostrava, mas também considerando os kms que teria de fazer para me deslocar
até Sabinanigo…
A
viagem de carro na véspera foi dura, cerca de 9 horas e quase 1000 kms, mas
como diz o ditado “quem corre por gosto não se cansa”. Queria chegar cedo para
levantar o dorsal e evitar alguma confusão, mas a confusão “organizada” à
chegada era já muita e esperada, estacionar não foi muito fácil, no entanto
levantar o dorsal não demorou mais de um minuto. Depois disto tudo sabia que
ainda tinha de me deslocar mais 45 kms até Formigal, perto da fronteira de
Espanha com a França, onde iria tentar descansar alguma coisa. À chegada ao
hotel uma boa surpresa, encontrei o Pedro, um português que gostava de
bicicletas e trabalhava por aquelas bandas, e que me fez sentir em casa!
A
noite foi curta e o despertar de sábado foi muito cedo, tinha de tomar o pequeno-almoço
e sabia que ainda tinha quase 1 hora até Sabinanigo.
Aquela
hora parecia impossível de onde tinha surgido tanto carro e tanta bicicleta. O
caminho até Sabinanigo foi rápido, alguns utilizavam já a bicicleta. Apesar de
algumas filas à entrada de Sabinanigo, consegui estacionar facilmente e
relativamente perto do local da partida, depois foi preparar a bicicleta e
esperar.
Os
quase 9.000 participantes no Quebrantahuesos partiram às 7.30h, tinham pela
frente duas centenas de kms e a subida a quatro montanhas de muito respeito:
Puerto de Samport, Col de Marie-Blanque, Col du Portalet e Puerto de Hoz. Os
2.000 participantes no Treparriscos partiram meia hora mais tarde, tínhamos
pela frente uma prova mais amigável, com algumas partes em comum com o percurso
do Quebrantahuesos, mas que no fundo foi relativamente fácil.
Parti
um pouco cá de trás mas aos poucos fui recuperando lugares, algumas subidas
mais complicadas como o Hoz de Jaca e depois em Sallent de Galego, mas depois
foi quase sempre a rolar. Na 2ª metade do percurso apanhei um grupo de cerca de
20 ciclistas e num abrir e fechar de olhos estávamos em Sabinanigo.
Já
na véspera tinha começado a magicar uma ideia, tinha falado com o amigo Pedro e
ele disse-me que certamente era possível. A ideia era descer a Laruns e depois
subir ao Puerto de Portalet. E assim foi, depois de chegar a Sabinanigo devolvi
o chip, comi qualquer coisa rápida e pus-me a caminho do Formigal. Deixei o
carro no hotel e comecei a subir para o Puerto do Portalet, a agitação por ali
já era muita, os primeiros grupos de ciclistas já desciam em grande ritmo e eu
só consegui chegar à rotunda antes do Portalet. A partir daí já fui obrigado
pela polícia a seguir por uma parte lateral, com grades e estreita, e com
grande custo consegui chegar ao Puerto do Portalet, a fronteira da Espanha com
a França.
A
quantidade de pessoas que ali estava era impressionante, e a forma como
apoiavam os ciclistas era indescritível. Os ciclistas chegavam ali no “red
line”, era impressionante olhar para eles e pensar a quão assustadora devia ser
aquela subida ao Portalet. A minha ideia era descer para depois subir, mas cedo
percebi que face à polícia e às barreiras ia ser impossível.
Aguentei
por ali, tirei algumas fotografias, e tentei ver se via alguém conhecido. Só
conheci o Tozé Cancela, ainda lhe berrei “força Cancela”, ele olhou e disse-me
qualquer coisa que não consegui perceber e continuou estrada abaixo rumo ao
Formigal.
Não
se via ninguém a passar para baixo e eu percebi que a minha ideia inicial iria
cair por terra. Mas, eis que, surgidos do nada aparecem dois franceses, já
entradotes, de bicicleta, que seguiam para baixo e gritavam para quem subia
“Animo, Animo!!”, e eu pensei é agora, pulei as barreiras, subi para a
bicicleta e vou atrás deles “Animo,
Animo!!”.
A
paisagem era de sonho, mais uma curva, mais uma reta, e toda aquela envolvência
dos Pirenéus fazia-nos sentir tão pequeninos. E eu descia, descia…
Passei
as quedas de água de Artouse, e já não sabia bem onde é que estava, mas estava
preocupado com o que tinha de subir até Portalet. Desci mais um pouco até
Gabas, comi qualquer coisa e resolvi começar a escalada, o apoio das pessoas à
beira da estrada era constante.
A
subida é dura, mais ainda para quem chega ali já com quase 150 kms a pedalar,
inclinações de 5, 6, 7%, e é ver muitos a penar por ali acima, é assustador ver
todos aqueles picos dos Pirenéus e aquelas rampas que nunca mais acabam, mas no
fim chegar cá acima dá uma enorme satisfação.
Depois
de chegar ao Portalet continuei até ao Formigal e depois ainda até Sallent de
Galego, onde dei meia volta e regressei ao hotel em Formigal. Foram
trinta e poucos kms mas com uma altimetria bastante interessante.
Domingo
regressei a casa, tinha quase mais 1000 kms e 9 horas de viagem pela frente, na
saída do Formigal até Saninanigo ainda encontrei muitos ciclistas que
desafiavam mais uma vez aquelas duras montanhas.
Quanto
à classificação fiz um tempo de 2:58:12h, com uma velocidade média de 30.0 Km/h , na posição nº
260 da tabela. Enfim, só posso mesmo dizer que foi certamente a maior aventura
em duas rodas que fiz até hoje, cansado, mas muito satisfeito por ter vivido
momentos inesquecíveis e ter contemplado paisagens soberbas. Até uma próxima Sabinanigo…